Patrimônio Cultural, Ensino de Projeto e Profissão de Arquiteto: Caso ou Acaso?
Abstract
É na busca por uma reflexão em torno da construção do conhecimento e do ensino da arquitetura em seus rebatimentos, práticas, diálogos e interfaces que a questão “Patrimônio cultural, ensino de projeto e profissão de arquiteto: caso ou acaso?” se coloca. A hipótese sobre a qual se edifica esse artigo é a de que o campo do patrimônio cultural em termos da contribuição que representa, ao longo dos últimos 68 anos, ao desenvolvimento do ensino de projeto e da profissão de arquiteto, pode ser visto ora como caso, ora como mero acaso. A fim de confirmar tal hipótese, o texto a seguir apresenta-se estruturado em três diferentes momentos: 1) ser arquiteto, no Brasil, significava ser projetista e modernista de destaque, no exercício de uma profissão não raras vezes associada à atividade de ensino de projeto e defesa heróica do patrimônio nacional em pedra e cal; 2) ao arquiteto de projeto contrapôs-se o brilho do arquiteto-urbanista, cuja atividade estava ligada ao ensino e/ou pesquisa em planejamento urbano e, depois, com a incorporação da temática patrimonial ao contexto das políticas urbanas, à prática da salvaguarda de sítios históricos, área de atuação privilegiada do nascente arquiteto-preservacionista; e 3) em meio aos discursos interdisciplinar, multidisciplinar e trans-disciplinar, o especialista em patrimônio cultural surge como antropólogo, como sociólogo e por quê não?, como arquiteto sem conseguir dar legitimidade à profissão, dependente do reconhecimento do comprometimento com causas sociais, perante as quais o ensino de projeto e a profissão de arquiteto estão em débito.