Reatualizando Gottfried Semper: entre exposições universais, concursos e teoria do projeto
Abstract
Este texto propõe uma releitura do célebre arquiteto e teórico alemão Gottfried Semper, mais particularmente da sua teoria da transformação de material [Stoffwechseltheorie], presente nas suas obras mais importantes, Die Vier Elemente der Baukunst (1851) e Der Stil (1860). Como se sabe, estas obras vêm revestidas de uma reflexão sobre a noção de estilo e sobre a policromia da arquitetura grega, apresentando em primeiro plano as explicações do autor sobre a origem da arquitetura a partir da imagem da cabana primitiva, e os argumentos sobre os “quatro elementos da arquitetura” e as “quatro técnicas fundamentais”. Mas, independentemente destes aspectos, o autor procura explicar alguns fenômenos importantes da expressão da construção, e por isso, a sua teoria da transformação de material poderia servir de guia a uma nova reflexão sobre o projeto de arquitetura. A teoria de Semper afasta-se da tradição onde a arquitetura era normalmente abordada segundo os componentes da construção como colunas, entablamento, e elementos decorativos, e que serviam sobretudo para explicar a arquitetura clássica. Ao contrário, Semper interpreta a arquitetura a partir de quatro funções essenciais do edifício: abrigar, elevar, cobrir e fechar; propondo assim uma divisão em quatro elementos que já seriam encontrados nas construções primitivas: lar, podium, telhado e fechamento. Para Semper, de cada um desses quatro elementos se origina uma das quatro técnicas fundamentais – a cerâmica, a alvenaria, a carpintaria e o têxtil. Esta teoria da arquitetura sobrepõe assim uma divisão do edifício a uma observação das técnicas de construção, e apresenta uma reflexão sobre as inter-relações entre as diferentes técnicas construtivas. Destas inter-relações resultariam “influências” visuais entre as diferentes técnicas seja pela simples substituição de materiais [Stoffwechsel], ou pelas referências simbólicas resultantes, fenômeno que ele chama de “transformação de material”. Em conseqüência, a teoria de Semper poderia ser vista como uma explicação sobre as diversas possibilidades combinatórias da arquitetura, que seria responsável, tanto de uma variedade infinita de aplicação, bem como seria um dos motores da própria expressão arquitetônica. Assim como o teórico alemão se interessou pela Exposição Universal de Londres de 1851, onde ele observou a tão célebre “cabana caraíba” que ilustra a sua teoria, esse texto se interessa por uma exposição universal mais recente, e um evento interessante sugerindo a comparação da arquitetura de dois países distantes. No fim dos anos 1960, tanto o Brasil quanto o Canadá organizaram um concurso de arquitetura para escolher seus projetos de pavilhão nacional para a Exposição universal de Osaka em 1970. Os projetos vencedores, dos arquitetos de renome internacional, Paulo Mendes da Rocha e Arthur Erickson & Geoffrey Massey, respectivamente, procuravam dar uma nova expressão para a arquitetura moderna. Estes pavilhões apresentam expressões construtivas onde as inter-relações entre diferentes técnicas, tal como explicadas na teoria de Semper, possuem um papel importante na concepção do projeto.