Capitalismo e Esquizofrenia. Gilles Deleuze, Félix Guattari e o Ensino de Projeto
Abstract
Com o declínio das grandes narrativas, os rumos de nossa sociedade não se estabelecem frente a uma ordem hierárquica organizável ou legível – são formas inconclusas e cambiantes que moldam-se a cada novo momento por impulsos também de difícil identificação. A idéia de modelo (ou verdade) se desvanece frente a uma situação cujos limites e alicerces tornaram-se imprecisos. Em arquitetura, temos como questão primordial o dever de corresponder ao tempo presente – entendê-lo, decifrá-lo, discuti-lo, contestá-lo -, compartilhar de uma vontade social maior e superar os obstáculos recorrentes à nossa arte. “Projetar contra”, como já definiu Giulio Carlo Argan, torna-se uma estratégia essencial – um desafio frente a um mundo pouco disposto às ambições humanas, sociais e culturais da disciplina. Este artigo procura documentar uma experiência didática onde a compreensão dos fenômenos contemporâneos foi filtrada, prioritariamente, sob a ótica conflitante dos polêmicos pensadores franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari. Os estudos apresentados são Trabalhos Finais de Graduação apresentados para a Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP. Representam muitos dos conceitos direcionados pela organização das disciplinas que acompanham os trabalhos nos dois últimos semestres letivos. O rigor no levantamento de conceitos teóricos e seu afinado aparelhamento a uma pesquisa tecnológica contínua, demonstrou resultados surpreendentes. Na especificidade dos estudos contemporâneos, a já explicitada influência dos autores Deleuze e Guattari revela questões instigantes: qual a validade de seus conceitos no cenário nacional contemporâneo? Como são seus rebatimentos nas posturas projetuais? Como instrumentalizar sua teoria no ensino de projeto?