Rua, Largo, Rossio, Muralha: a requalificação dos espaços urbanos portugueses.
Abstract
RESUMO Uma dimensão pouco discutida do projeto de requalificação é aquela que trata do espaço urbano. A questão hoje tem estado mais enfocada nos aspectos que a musealização dos centros históricos e a espetacularização da cidade tem assumido no contexto da globalização e, menos, no possível papel que o projeto de intervenção contemporânea pode ter na requalificação do espaço urbano da cidade antiga. Nos últimos anos, arquitetos portugueses tem investido em projetos que partem da premissa de requalificar os espaços urbanos para estar induzindo a reabilitação dos seus centros históricos. Esta premissa, bastante discutível em inúmeros aspectos, tem já um número grande de operações que nos permitem fazer uma avaliação destes novos projetos urbanos: nas grandes cidades como no Porto, onde a construção de grandes equipamentos culturais e o tratamento dos espaços urbanos foram a base dos projetos de transformação da cidade em capital da cultura européia em 2001; ou em operações emblemáticas como na reciclagem a idéia de Rossio pela construção do imenso terreiro em frente ao Convento de Alcobaça; ou nas pequenas aldeias – Linhares, CasteloNovo, Idanha-a-Velha – em acelerado processo de desertificação que passam a ter na rearquitetura de ruas, largos e muralhas a aposta na recuperação de uma nova dinamica urbana. Musealizar ou adequar a cidade antiga à vida moderna. Na realidade as duas perspectivas são muito mais próximas do que temos considerado. Projetar o espaço urbano da cidade antiga se torna portanto um desafio que merece uma reflexão no contexto do III Projetar. As considerações do presente texto sobre a experiência portuguesa recente, onde o espaço urbano tem sido objeto de muito projeto, pode representar uma contribuição interessante a essa reflexão e à situação brasileira que ao contrário tem poucas experiências que enfrentam claramente o problema do desenho das ruas, largos e rossios dos nossos centros históricos. ABSTRACT A little known aspect of architectural rehabilitation projects has to do with urban spaces. In recent years, there has been a greater focus on the preservation of historic neighbourhoods as virtual open-air museums and the showcasing of singular aspects of cities, which have assumed a greater importance in the context of globalisation. There has also been an interest, albeit to a lesser degree, in the possible role that contemporary intervention can play in the rehabilitation of urban spaces in historic cities. In recent years, Portuguese architects have invested in projects that seek to transform urban spaces in order to foment the rehabilitation of historic city centres. This premise, which has given rise to much debate, has already resulted in a considerable number of operations that are underway, which enable us to analyse these new urban projects. These initiatives are evident in major cities such as Oporto, where the construction of large-scale cultural infrastructure and the treatment of urban spaces served as the basis for projects aimed at transforming the city into the European Cultural Capital for 2001 or in emblematic operations such as the recycling of the notion of the Rossio, or plaza, by means of the construction of a vast square in front of the convent of Alcobaça. They are visible even in smaller towns such as Linhares, Castelo Novo and Idanha-a-Velha, where the local population is dwindling rapidly, towns that have sought to implement new urban dynamics via the transformation of historic streets, squares and ancient city walls. So should one transform cities into museums or instead adapt these spaces to modern lifestyles? In truth, both these options have more in common than one would think at first glance. Planning urban spaces in historic city centres thus becomes a challenge that merits further reflection within the context of the III Projectar Plan. The contents of this paper about recent initiatives in Portugal, where urban spaces have been the object of numerous projects, could prove to be an interesting contribution to this discussion, especially when compared to the situation in Brazil where, on the contrary, there have been relatively few experiments that have clearly tackled the problem of the design of streets, squares and commons in historic urban neighbourhoods.