Restauro e Requalificação da Biblioteca Central da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Abstract
RESUMO No início do século XX São Paulo vivia um clima de modernidade e excitação. A cafeicultura era aos poucos substituída pela industrialização. A sociedade reestruturava-se, incorporando novos modos de vida. Uma burguesia empreendedora transformava a cidade provinciana em uma cidade moderna, suprimindo as demandas de infraestrutura, equipamentos e espaços públicos. Neste contexto, em 1913 era inaugurada a Faculdade de Medicina e Cirurgia, na Avenida Brigadeiro Tobias, oriunda da “Academia de Medicina, Cirurgia e Pharmacia de São Paulo”, criada em 1891. A construção de seu edifício central, na Avenida Municipal (atual Dr. Arnaldo), foi autorizada em 1916 e iniciada em 1928. Nesta empreitada foi essencial a contribuição da Fundação Rockefeller, instituição americana que, dos anos 1920 a 1930, apoiou muitas iniciativas no setor da saúde pública, ensino e pesquisa na área biomédica na cidade. Em 1931 era inaugurada oficialmente a Faculdade, integrada à Universidade de São Paulo três anos depois. Para a elaboração do programa do novo edifício, uma comissão de professores, a convite da Fundação Rockefeller, percorreu centros de ensino médico modernos nos Estados Unidos, Canadá e Europa. A partir deste estudo, foi chamado o Escritório Técnico Ramos de Azevedo, o mais importante e prestigiado da época. A idéia inicial - edifícios isolados em estilo neo-gótico, muito corrente nos "campi" norte-americanos - evoluiu para um edifício único. Foi mantido o estilo neo-gótico, pouco habitual no Brasil e nas obras de Ramos de Azevedo, como o Teatro Municipal, nas quais predominava o estilo eclético, que mesclava elementos de diferentes períodos na composição. Devido à sua importância histórica e arquitetônica, o edifício foi tombado em 1981, pelo Condephaat, órgão estadual de defesa do patrimônio histórico. Em 2004, integrando o Plano Diretor de Obras da Faculdade, o arquiteto Paulo Bruna foi contratado para o projeto de restauro e requalificação da sua biblioteca central. São 2.850 metros quadrados distribuídos em quatro pavimentos, em uma das alas laterais ao hall central. Visibilidade, acessibilidade e funcionalidade, somadas às necessidades de ampliação do acervo de livros, organização das áreas administrativas e estruturação da circulação foram idéias que nortearam o projeto. O partido inverteu o sentido organizacional da biblioteca. A entrada, antes localizada no segundo pavimento, passou para o nível da rua e tornou-se independente do restante do prédio, possibilitando definir claramente os diversos fluxos e níveis de acesso. Todos os pavimentos agora se interligam por uma circulação vertical central, composta pela escada principal - anteriormente servindo somente a partir do primeiro pavimento -, elevador e monta-carga. Foram criadas zonas funcionais bem definidas: no embasamento, áreas de oficinas e acervo de periódicos; no primeiro pavimento está a entrada e o setor de atendimento aos alunos; no segundo, a maior parte do acervo de livros e salas de estudo; no terceiro, áreas administrativas. O acervo de livros já havia sido objeto de intervenção anos atrás, quando a laje em concreto do terceiro pavimento fora parcialmente demolida para dar lugar a mezaninos metálicos que dividem os pés-direitos de cerca de quatro metros, criando passarelas sobre as quais foram colocadas estantes. Com a reforma, o acervo de livros aumentou sua capacidade de 53.000 para 117.000 exemplares. O acervo de periódicos, interessante estrutura metálica dos anos 1930, doada pela Fundação Rockefeller, agora é visualmente acessível a partir da circulação do primeiro pavimento e pelo acesso principal, graças à instalação de grandes caixilhos de vidro. O projeto demonstrou seriedade com relação tanto às novas necessidades funcionais quanto à preservação e respeito a este edifício de inquestionável importância histórica, institucional, urbanístico e arquitetônico. ABSTRACT In the beginning of the XX century, there was a climate of modernity and excitement in São Paulo. The culture of coffee was replaced by industry. By incorporating new ways of life, the society changed. An enterprising group turned the antique city into a modern one by serving the necessity for infrastructure, urban equipments and public spaces. In this context, in 1913 the Faculty of Medicine and Surgery was founded, on Brigadeiro Tobias Avenue, from the “Academy of Medicine, Surgery and Pharmacy of São Paulo”, created in 1891. In 1916 the construction of its central seat was authorized and in 1928 it began. In this challenge, it was essential the contribution of Rockefeller Foundation, an American institution which supported many initiatives in public health, education and resource in Medicine in the city, from 1920’s to 1930’s. In 1931 the Faculty was officially opened, and three years later it integrated the University of São Paulo. In order to elaborate the new building program, a commission of professors was invited by the Rockefeller Foundation to visit modern Medicine educational centers in the United States, Canada and Europe. Based on this study, Technical Office Ramos de Azevedo, the most important and famous architecture office in that time, was called to project the new building. The first idea - isolated buildings in Neo Gothic style, very common in North-American campus – developed into a single building. The Neo Gothic style remained, even not-common in Brazil neither in Ramos de Azevedo’s projects, such as the City Theatre, whose predominant ecletic style combined elements from different periods in the composition. Because of its historical and architectural importance, in 1981 the building was put under the government trust by Condephaat, the São Paulo State council for the preservation of historical buildings. In 2004, the architect Paulo Bruna was hired to make the project of restoration and requalifyng of its central library, as part of the Master Plan of Works in the Faculty. It is a 2850-square-meter library divided in four floors, located in one side of the central hall. Visibility, accessibility and functionality, necessity for larger space for the bookshelves, organization of administration areas and a well structured circulation were the main ideas. The project inverted the organizational direction of the library. The entrance, first located on the second floor, moved to the same level of the avenue and became independent from the rest of the building, defining clearly the several flows and levels of accessibility. All the floors are now connected by a central system of vertical circulation, formed by the main stairs – that beforehands served only from the first floor - and elevator. Well-defined functional zones were created: on the basement, bookbinder’s workshop and periodicals collection; on the first floor, the entrance and the assistance for the students; on the second one, the largest part of the bookshelves and study rooms; on the third one, administrative section. The bookshelves area had already been modified years ago, when concrete slab on the third floor was partially demolished in order to install metallic platforms which divide the four-meter height, creating footbridges on which are the bookshelves. After the works, the books collection increased in capacity from 53.000 to 117.000 volumes. The periodicals collection, seated on an interesting 1930’s metallic structure donated by Rockefeller Foundation, now is visually accessible from the circulation on the first floor and from the main entrance, due to the installation of large glazed surfaces. The project demonstrated seriousness about the new functional necessities and about the preservation and respect to this building, which has unquestionable historical, institutional, urbanistic and architectural importance.