A torre miesiana e a cidade histórica: O projeto para o Lloyds Bank.
Abstract
RESUMO Ao interferir em um objeto ou um meio cultural existente, o arquiteto tem o dever de reconhecer os valores históricos permanentes, alheios a qualquer nostalgia ou romantismo, de modo que a ação contemporânea se torne uma reação coerente daquilo que já existe. Isto não significa que o resultado de determinada intervenção tenha que recorrer a mimetismos, reutilizando esquemas pré-estabelecidos pelo objeto existente, de modo a facilitar a aceitação do novo por parte da sociedade. A rearquitetura pode, e muitas vezes este é o melhor caminho a seguir, estabelecer uma explícita e voluntária distinção, onde o novo se insere com uma visão oposta e moderna, qualificando através dos contrastes, o entorno construído. No ano de 1924, Mies van der Rohe formula o manifesto Baukunst und Zeitwille!, onde defende a idéia de que “não é possível avançar olhando para trás”1. Esta afirmação tinha como objetivo reforçar a constante busca do arquiteto por uma construção totalmente livre das imposições estéticas historicistas, onde o edifício contemporâneo tivesse a capacidade de qualificar o lugar através de um enfrentamento coerente dos problemas de projeto ali existentes. Mas isto não significa que o pensamento miesiano deixa de se reportar à história na resolução de suas propostas. Ele apenas o faz com valores contemporâneos, criando uma relação intelectual que busque compreender as lições historicistas do local de modo a prover uma nova interpretação aos elementos de arquitetura, mesmo que estes estejam em plena contradição com o existente. O objetivo do presente trabalho é a análise de uma proposta desenvolvida por Mies van der Rohe no ano de 1967 para a cidade de Londres. Este projeto, posteriormente conhecido como “Mansion House Square”, constituía na construção de um edifício de escritórios, que inicialmente acomodaria as funções do Lloyds Bank, em plena malha urbana histórica da capital inglesa, identificando, interpretando e enfrentando com extremo rigor e técnica, a relação entre a obra nova e entorno histórico. Além de analisar especificamente a requalificação do entorno urbano proposto pelo projeto, pretende-se estabelecer um vínculo entre os trabalhos anteriormente desenvolvidos, principalmente na fase americana, pelo arquiteto, comprovando que as escolhas que resultaram na proposta londrina não foram fruto do acaso, mas sim, o amadurecimento de uma ideologia de projeto baseada na construção de um espaço de extrema qualidade, sem renunciar à exigência de uma boa arquitetura. ABSTRACT To modify or propose changes for an object or an existent local culture, architects should recognise the historical value, leaving apart any kind of nostalgic or romantic feeling, making the current action a coherent reaction from the existent object. This doesn’t mean that the result should bring mimetic ideas in order to facilitate its acceptance from the local society. The called re-architecture can, and sometimes it is the best way to do, establish a distinction, where new ideas bring modern and opposite feelings, qualifying the built environment. In 1924, Mies van der Rohe launches the Baukunst und Zeitwille! manifest, believing that “it is not possible going forwards without looking backwards”. This affirmation, had as main objective, reinforce the architects idea of a building totally free of historic aesthetic imposition, the contemporary building should show its capacity of qualify its environment, being coherent related to the existent design process. This doesn’t mean that the miesian thought would not rely in historic facts to solve design problems. He does it using contemporary values, creating an intellectual relationship trying to understand local historic lessons in order to review architecture elements, even if those elements are contradictory with the existent environment. The main objective of this paper is to analyse a Mies van de Rohe proposal for the city of London in 1967. This project, later known as “Mansion House Square”, consist in a office building for the Lloyds Bank, located in the heart of the urban area of England’s capital, identifying and interpreting the relationship between new building proposal and historic surroundings by using high technical approach. Apart from the specific analyses of qualifying the proposed urban surroundings, it has the intention of establish a link between previous Mies van der Rohe works, mainly during the American stage, proving that design decisions for London’s proposal emerged not by chance. It has the intention of showing a design ideology based on building spaces with high quality, without resignation from a good architecture.