A DIVERSIDADE NA IBA 1987 EM BERLIM: FRAGMENTAÇÃO E PLURALIDADE
Abstract
RESUMO A revisão do Movimento Moderno gerou, a partir da década de 60, importantes teorizações que serviram de pano de fundo para a implementação de requalificações em centros urbanos históricos, que, segundo Aldo Rossi e Jane Jacobs, são as regiões das cidades que mais necessitariam ser objeto de intervenções. A IBA (Internationale Bauausstellung), exposição realizada em Berlim em 1987 foi fruto desse tipo de teorização, e encontrou sua fundamentação conceitual no tema “o centro urbano como lugar para viver”. Este objetivo de atuar no centro urbano foi uma resposta aos anos de descaso com a crescente degradação das áreas centrais da cidade. A exposição, desenvolvida sob os princípios de “reconstrução crítica” e “renovação cautelosa da cidade”, contou com a construção de 3500 unidades residenciais concentradas em cinco regiões da cidade. A IBA foi idealizada como oposição ao formato das exposições anteriores realizadas em Berlim, que promoviam a busca por um ideal urbano a ser reproduzido, e fundamentou-se na recomposição do tecido urbano semidestruído através da evocação de elementos da cidade tradicional – praças, pátios internos, caminhos –, tornando o tecido histórico da cidade o estruturador da recuperação da vida pública coletiva. A exibição objetivava, portanto, delinear uma imagem uniforme do centro urbano, buscando um caminho de diálogo entre o tradicional e o moderno. Além disso, procurou evidenciar as visíveis contradições do moderno, não no sentido de estabelecer uma ruptura, mas na busca do desenvolvimento de uma arquitetura identificada com as condições locais, culturais e temporais. O enfrentamento da realidade da cidade existente e de seus problemas, e não a criação de uma nova realidade, estava entre as premissas básicas para implementação da exposição. Assim, a IBA promoveu a reconstrução de trechos da cidade priorizando, além do seu traçado urbano original, um planejamento seguindo a lógica da mescla de funções, em oposição ao zoneamento monofuncional ditado pelo Movimento Moderno. 1 Entretanto, na busca pela pluralidade, Kleihues opta por um modelo – reforçando a idéia de ausência de uma linha única de pensamento no quadro da arquitetura do momento – onde a participação simultânea de arquitetos internacionais possibilitou retratar um momento singular e multifacetado decorrente da crítica ao Movimento Moderno.2 Assim, as lógicas demonstrativa e organizacional da exposição possibilitaram a coexistência de uma enorme variedade de padrões residenciais, que a conduziram a uma natureza de modelos extremamente fragmentados. Isto é conseqüência da lógica interna de uma exposição de arquitetura que sacrificou a eficácia urbana dos projetos em favor da ideologia do pluralismo cultural. Kleihues defendia um pluralismo entendido como a confrontação simultânea de distintos pontos de vista, e como a impossibilidade de se chegar a uma teoria única e definitiva, assim como demonstrava uma aversão a teorias urbanas homogeneizadoras ao criticar conjuntos habitacionais como Gropiusstadt e Märkisches Viertel. Portanto, se sob o ponto de vista quantitativo os resultados alcançados foram positivos em termos de número de habitações construídas, do ponto de vista qualitativo o que resultou são “diferentes exemplos arquitetônicos organizados como se fossem peças rivalizando uma com a outra”. 3 Portanto, em todo o processo de debate gerado pela IBA, o mais evidente foi a confirmação de que Berlim, mesmo após a reunificação, continua sendo uma cidade de distintas realidades, cuja fragmentação e pluralidade estão longe de gerar uma convergência, seja a nível cultural, político ou arquitetônico. Esta se constitui a problematização inicial deste artigo, ou seja, observar, através de um interesse na vertente pluralista e diversificada da requalificação urbana e arquitetônica promovida pela IBA, as variantes que fizeram com que a exposição permitisse a coexistência não só do passado da cidade com os novos edifícios residenciais construídos, mas a coexistência de padrões tão diversificados de arquitetura. ABSTRACT The review of the Modern Moviment, from the 60s and on, created important theorizations that served as background for the development of requalifications in the urban historic centers. These areas, according to Aldo Rossi and Jane Jacobs, are the regions of the city that need the most to be the target of interventions. IBA (Internationale Bauausstellung), the exhibition that took place in Berlin in 1987, was a result of this kind of theorization and its fundaments lies on the theme “the city center as a place to live”. The aim of intervening in the urban center was to reply to the years of disregard to the growing decay of the central areas of the city. The exhibition was developed under the principles of “critical reconstruction” and “careful urban renewall”, and involved the construction of 3500 residential facilities placed in five regions of the city. IBA was created as to oppose the former exhibitions that took place in Berlin, which were searching for an idealistic urban scenario to be reproduced. Therefore, IBA based its works in the rearrangement of the semi-destroyed urban scenario. This would be accomplished by means of an evocation of elements of the traditional city, such as parks, courtyards and walks, and making the historical scenario of the city the structuring element of the recovery of the public life. Therefore the exhibition aimed at laying and uniform image of the urban center by means of a dialog between tradition and modernity. Other than that it tried to spot the contradictory elements of the modern, not in a sense of creating division in the movement but in a sense of developing an architecture that identifies itself with local, cultural and epoche conditions. Facing the reality of the city with its problems, and not creating a new reality, was the basic premise for the creation of the exhibition. Therefore IBA promoted the rebuilding of some parts of the city focusing, other than its original lines, in planning mixing functions, as opposed to the monofunctional zoning dictated by the Modern Movement. Nevertheless, in its search for plurality, Kleihues chooses a model – emphasizing the idea of absence of a single line of thinking in the frames of that moment’s architecture – where the presence at the same time of international architects allowed a glimpse of that moment’s singularity and diversification due to the criticism of the Modern Moment. Therefore, the demonstrative and organizational logics of the exhibition allowed the coexistence of a huge amount of residential patterns that lead to a nature of extremely fragmented models. This is the consequence of the internal logic of an architecture exhibition that sacrificed urban efficiency of projects to an ideology of cultural pluralism. Kleihues defended a pluralism that he understood as the simultaneous confrontation of different points of view and as the possibility to achieve a unique and final theory. In the same sense he showed his complete disregard for urban theories that tried to homogenize when he criticized the large housing estates on the outskirts such as Gropiusstadt and Märkisches Viertel. Therefore, if from the quantitative point of view the results reached were positive due to the number of houses built, from the qualitative point of view the results are “different architectonical examples organized as if they were competing one against each other”. As a result, in all the debate process created by IBA, the most clear was the confirmation that Berlin, even after reunited, continues to be a city with many realities, which fragmentation and plurality are far from converging . That is true in the cultural, political or architectonical level. This is the initial problematic of this research, that is, to observe, with special interest in the pluralist and diversified aspects of the urban and architectonical requalification promoted by IBA, the conditions that allowed the exhibition to conciliate not only the past of the city with the newly constructed residential buildings, but also the co-existance of such diversified patterns of architecture.