Um lugar para chamar de “Meu”: Estudo sobre relação afetiva com o lugar dos moradores da praia de Pipa-RN
Abstract
Os afazeres e as exigências físicas e sociais cotidianas fazem com que sintamos cada vez mais a necessidade de estar num ambiente familiar e restaurador, com os quais frequentemente estabelecemos vínculos emocionais. A interação com locais de descanso e lazer, exemplificados na literatura em Psicologia Ambiental por ambientes residenciais e recreativos, permite que exercitemos nossas potencialidades e fortaleçamos nossa identidade (pessoal e coletiva). Partindo deste pressuposto, esta dissertação tem como objetivo estudar a relação afetiva com o lugar de moradores da praia de Pipa-RN, que passou de vila de pescadores a ponto turístico trazendo muitas mudanças para a população local. Para tanto, utilizamos observação comportamental, entrevistas e documentação gráfica e fotográfica com 30 sujeitos selecionados por uma rede de indicações, atendendo ao critério “amar Pipa”. Após a sistematização das respostas, identificamos três super-categorias: 1) Amor, caracterizado pela forte representatividade que um ambiente tem para o indivíduo, sem, necessariamente, existência de vínculo afetivo, podendo ser mantido à distância e dissociado do desejo de estar presente; 2) Apego, traduzido pela dificuldade em se deixar o lugar, um vínculo que pode ser intermediado por investimentos financeiros pessoais ou expectativa de benefícios no futuro; 3) Afiliação, que se refere ao sentimento de pertença ao lugar e sua comunidade, compartilhando de sua história, cultura, hábitos, etc., independentemente do local de nascimento. Estas super-categorias não são excludentes, ao contrário, podem formar combinações, as quais denominamos de situações, que variaram do 01 (indivíduo envolvido com nenhuma das três) ao 07 (indivíduo envolvido com as três); não houve a combinação Apego e Afiliação. Estes resultados revelaram que dentro do arcabouço das relações afetivas com o lugar, há inúmeras possibilidades de interação pessoa-ambiente, determinadas pelas características físico-ambientais e pela avaliação que o indivíduo faz dele. Com esta pequena contribuição ao tema, esperamos iluminar perspectivas de pesquisas futuras, especialmente envolvendo a relação afetiva com lugares e a adoção de condutas pró-ambientais, como uma questão de preservação de ecossistemas e qualidade de vida dos usuários.