Urbanismo modernizador, consolidação modernista, reuso pós-moderno: a dinâmica de transformação urbana em Natal e a dilapidação de seu acervo arquitetônico
Date
2007-10-01Author
Trigueiro, Edja
Elali, Gleice Azambuja
Veloso, Maísa
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No processo de construção e re-construção das cidades, usos e estilos se sobrepõem e contrapõem continuamente, em função do jogo das forças sociais e ambientais que caracterizam a dinâmica urbana. Partindo desse pressuposto, o texto analisa o processo de transformação de uma área urbana central considerada “nobre” da cidade de Natal, parte dos bairros de Tirol e Petrópolis, designada Cidade Nova, quando de sua planificação, entre 1901 e 1904, como bairro residencial de elite. Surgidos a partir do chamado Master Plan de Polidrelli e confirmados pelo Plano Geral de Systematização de Palumbo, os 48 quarteirões que compunham originalmente a área (Miranda, 1999) tiveram sua ocupação edilícia consolidada entre as décadas de 1920 e 1960, conforme evidencia a planta de 1924 – elaborada por Henrique Novaes e Paulo Coriolano para a firma Saturnino de Brito, contratada para implementar o sistema de água e esgotos de Natal (Miranda, 1981, p.123), onde aparecem pequenos núcleos de ocupação e edifícios esparsos – e as características morfológicas do conjunto edificado que sobreviveu até finais do século passado. É, portanto, nessa área de pouco mais de um quilometro e meio quadrado que se concentra o mais importante – em volume e diversidade de tendências – conjunto representativo da arquitetura doméstica proto-moderna e moderna potiguar. O crescimento urbano de Natal nos anos 1970 e 1980, o deslocamento do centro ativo a partir dos núcleos originais de ocupação – Cidade Alta e Ribeira – e o processo de desvalorização e esvaziamento desses núcleos, fizeram com que a área analisada passasse por sensíveis mudanças, deixando de ser essencialmente residencial e constituindo-se cada vez mais como um centro de comércio e de prestação de serviços especializados, destinados a grupos sociais de média e alta renda (tornou-se hoje, por exemplo, o mais importante pólo-médico hospitalar da cidade), além de enfrentar um acelerado processo de verticalização, tanto para fins institucionais quanto para habitações multifamiliares. Tais mudanças de uso acarretaram a substituição do conjunto edilício de Petrópolis e Tirol e ameaçam extinguir qualquer vestígio do que de melhor se produziu em termos do patrimônio edificado modernista residencial da cidade. O texto ilustra este processo com exemplos de edificações inventariadas e analisadas pelo grupo de pesquisa de suas autoras, a fim de demonstrar que, na ausência de qualquer política de proteção à arquitetura moderna, em face de uma sociedade composta primordialmente de recém-chegados fortemente movidos por um ideário social de atualização/reordenação (a população saltou de 200 mil habitantes, nos anos 60, para mais de um milhão atualmente), e de um mercado imobiliário em expansão, o “novo” e o “lucro” parecem ser as únicas noções subjacentes ao processo de transformação. Neste estudo, busca-se também demonstrar, através de projetos analisados, o quase total “desrespeito” pelas características formais e estilísticas modernas originais dos edifícios reformados ou substituídos, que, por despreparo teórico e técnico de projetistas que os consideram (ultra) passados, já em muito distanciam Petrópolis e Tirol da qualidade ambiental e do éthos da outrora decantada Cidade Nova.