Autobiografia Ambiental como estratégia para incentivar o vínculo estudante-ambiente.
Abstract
A compreensão dos laços afetivos e cognitivos pessoa-ambiente formados em nossa vivência ambiental é fundamental para o entendimento de nossas atitudes/comportamentos para com o meio e da formação da identidade pessoal/grupal. Um modo de facilitar a reflexão sobre esses vínculos é a elaboração da autobiografia ambiental do indivíduo, texto cujo principal foco é colocado nas suas experiências ambientais, se diferenciando de outras autobiografias por dar menor atenção a datas, nomes de pessoas e detalhes semelhantes, em favor da maior ênfase na descrição de lugares que o “marcaram” e dos sentimentos a eles relacionados. Essa tarefa permite o afloramento de temas/sensações de interesse da pessoa, podendo envolver atividades verbais (relatos orais e escritos) e não-verbais (desenhos, pinturas, colagens). Desde 1990 temos utilizado a autobiografia ambiental em nossas atividades didáticas com universitários nos cursos de graduação e pós-graduação em psicologia e em arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os estudantes produzem textos com duas a dez páginas, escritos em prosa (poucos fazem versos) e em linguagem coloquial, geralmente contendo em torno de cinco fatos considerados significativos pelo autor. Estruturalmente a maioria dessas narrativas é linear no tempo, embora também encontremos relatos temporalmente invertidos, indefinidos (caóticos) ou com perspectiva futura (raros). Fortemente embasados nos sentidos (sobretudo visão), os participantes relatam acontecimentos em espaços externos e comentam férias e/ou momentos de descontinuidade/alteração na vida cotidiana (como mudança de moradia ou status social da família). Os textos costumam expor momentos agradáveis e sentimentos de tranqüilidade/segurança/bem-estar, havendo poucas referências a experiências/sensações desagradáveis, e sentimentos de medo/tristeza/mal-estar. Entre os elementos da natureza presentes, destacam-se: vegetação (sobretudo árvores), animais (desde mamíferos domésticos até diferentes/exóticos/selvagens/curiosos) e elementos como água e terra. O ambiente construído mais citado é a moradia: a própria casa (quer tenha sido sempre a mesma, ou não) ou a de avós. O gênero do autor aparenta diferenciar as narrativas. As mulheres mencionam mais frequentemente que os homens elementos ligados ao tato e temperatura, animais e vegetação, especialmente frutas/verduras e árvores (sobretudo frutíferas). Enquanto ferramenta de ensino, as autobiografias ambientais incentivam os estudantes a: olhar retrospectiva e diferentemente para suas vivências; resgatar locais significativos do seu passado; desenvolver senso crítico sobre preferências e valores ambientais; compreender algumas de suas escolhas, inclusive profissionais. Não é incomum que, ao final do exercício, surjam comentários que explicitam a conscientização/constatação de que cada um carrega em si um pouco do ambiente já vivido.