Crítica e Avaliação no Ensino do Projeto Arquitetônico: Subsídios para uma Discussão Necessária
Abstract
A prática usual da avaliação no ensino do projeto arquitetônico apresenta alguns pontos insatisfatórios. Diferentemente das disciplinas discursivas convencionais, uma prova de projeto arquitetônico não suscita a confecção de um gabarito, isto é, de uma tabela com as alternativas corretas e excludentes de respostas. Não há a possibilidade de atribuição de um grau ou conceito de aproveitamento de modo preciso e impessoal. No projeto arquitetônico, a dúvida começa na incerteza sobre o que de fato deve ser avaliado: o aluno, ou o trabalho? A maioria dirá que se trata de avaliar o trabalho, ou de avaliar o aluno através do trabalho. Um esforço no sentido de atenuar o problema da imprecisão do processo é representado pela tentativa de matematizar a atribuição dos graus e conceitos, mas a ponderação sempre será arbitrária, seja no caso da atribuição de pesos iguais, ou de pesos diferentes. Também é repetido que o estabelecimento dos chamados «critérios claros e objetivos» reduz tanto a arbitrariedade quanto a subjetividade. Mas se confundem dois conceitos diferentes, o de critério e o de categoria de avaliação. A categoria de avaliação enuncia os aspectos que serão avaliados; o critério estabelece a separação entre o aceitável e o inaceitável. No âmbito da crítica da arquitetura, os termos vitruvianos (utilitas, firmitas e venustas) são, às vezes, apresentados como critérios quando, de fato, são categorias de avaliação; o critério sempre explicita o separador entre o aceitável do inaceitável. Defendo a idéia de que, no processo de avaliação acadêmica, deve ser aplicado, em toda extensão, o procedimento crítico. O primeiro propósito da crítica da arquitetura, no ensino ou fora dele, é o de desvendar o conteúdo da obra, com o exercício de um olhar que não é o do próprio criador, comprometido afetivamente com a criação, mas é o de quem, pelo conhecimento e pela sensibilidade, é capaz de captar inteiramente o significado da coisa criada. Perseguindo este objetivo, a crítica, verificando a observância das premissas na obra, avalia esta e aquelas, ou seja, avalia a prática e a teoria, e a inserção da teoria na prática; avaliando a teoria, viabiliza seu aperfeiçoamento, e o aperfeiçoamento da prática.