dc.description.abstract | Houve um tempo em que se dizia: linguagem de arquiteto é desenho (Marques, 2005). Palavras, raras no discurso profissional, na maior parte das vezes, eram enfeite. Enfeite que, se não era crime – como pensava Loos o ser da natureza do ornamento – era totalmente dispensável. Mas, este tempo passou. Progressivamente a relação entre discurso textual e discurso imagético modificou-se, sobretudo no âmbito da educação do arquiteto. Nas escolas, as palavras parecem invadir cada vez mais a produção dos estudantes de arquitetura, em detrimento das formas de expressão tradicionais: croquis, desenhos, colagens, fotos. Fato tanto mais curioso na medida em que a cultura globalizada se torna cada vez mais visual e que o mundo digital multiplica as possibilidades de expressão imagética. O fato é que, há quase duas décadas, período que coincide com a introdução do Trabalho Final de Graduação e com o desenvolvimento da pesquisa em Arquitetura e Urbanismo, a profusão textual tem sido crescente nos cursos de arquitetura. No entanto, a repercussão deste crescimento na produção do conhecimento em arquitetura mereceria ser questionada, tantos os equívocos que se mantêm recorrentes. Entre estes, o mais freqüente tem sido a substituição da Teoria pela História. Mais precisamente, por uma abordagem histórica que se caracteriza pela busca da origem remota do assunto em tela, independentemente de sua natureza: a síndrome das cavernas, conforme expressão brilhantemente cunhada por Edja Trigueiro. De par, ou como conseqüência do esquivar a teoria, surge o vício metodológico: a descrição substitui a análise, ocorrência comum, sobretudo quando referências são invocadas como instrumento de ajuda à concepção do projeto. Grande parte desses equívocos teria advindo da introdução da obrigatoriedade do Trabalho de Conclusão de Curso, fruto de uma geração docente que se profissionalizou como professor e pesquisador, da qual as autoras fazem parte. Começaremos então este artigo, talvez numa espécie de mea culpa, a mostrar como nossas melhores intenções guiaram os piores gestos: os equívocos que ilustraremos com exemplos encontrados ao longo de nossa prática docente e mais recentemente, nos Trabalhos de Conclusão de Curso, estocados pela pesquisa do Projedata/UFRN. Continuando, questionamos as razões da aceitação desta situação e passamos, numa tentativa de reparação, a discutir quais seriam as diversas possibilidades de abordagem teórica em arquitetura. Concluindo, tentarmos avaliar em que medida este desvio da cultura de projeto – em prol de descrições e escrituras da historia das evoluções das atividades - poderia, talvez, estar conhecendo uma tentativa de reversão. | pt_BR |