dc.description | A literatura brasileira sobre Habitação de Interesse Social (HIS) produzida nos últimos vinte anos indica que, embora existam muitas investigações sobre o processo de construção dos empreendimentos, a qualidade do produto entregue e os impactos de implantação na cidade, elas não têm subsidiado as políticas públicas neste campo. Além disso, poucos trabalhos desenvolveram uma metodologia que abranja conjuntamente todos esses assuntos. Dentre os indicadores socioambientais desenvolvidos nesse campo destaca-se a habitabilidade, ou seja, as condições que qualificam um lugar e o caracterizam como adequado para ser habitado. Segundo Bonduki (2001), os elementos que constituem a habitabilidade podem ser agrupados em dimensões relativas à unidade habitacional (satisfação física, psicológica e social dos indivíduos com relação à morada) e ao meio urbano (acesso aos serviços públicos, como transporte, equipamentos e infraestrutura, localizados no bairro ou no empreendimento, isto é, no conjunto habitacional). Na pesquisa empírica realizada optou-se por dar ao empreendimento um status de terceira dimensão, visto que o atual programa de HIS brasileiro produz unidades habitacionais em escala massificada e com equipamentos e estrutura independentes, exigindo um olhar específico para os espaços livres e construções inerentes ao conjunto habitacional. Foi avaliado o Conjunto Habitacional Vivendas do Planalto (Natal, RN), por meio da estratégia da Avaliação Pós-Ocupação (APO). Para tanto, estas três dimensões foram avaliadas tecnicamente (por meio de ficha de vistoria) e sob o ponto de vista dos moradores (aplicação de questionários com 40 questões objetivas, incluindo escalas Likert). Ao avaliarem a unidade habitacional, o empreendimento e os serviços urbanos, os usuários apontaram mais pontos negativos nessa terceira dimensão, indicando que a falta de serviços públicos (equipamentos e transporte) os incomoda mais do que a disposição padronizada e concentrada das habitações, a pouca qualidade da construção ou as deficiências na infraestrutura da unidade e do empreendimento (críticas evidentes entre os pesquisadores). Explicam tal resultado: (i) a relativa compatibilidade entre o espaço individual/familiar disponível e o estilo de vida dos moradores (GANS, 1962); (ii) a compreensão que, mesmo havendo problemas, a moradia atual tem mais qualidade que a anterior (PELLI, 2006); (iii) o fato do ambiente atuar abaixo do nível de consciência, de modo que as pessoas se adaptam às condições gerais e só se dão conta daqueles aspectos que mais as incomodam (ITTELSON et al, 1974). Diante da subjetividade inerente ao uso e à avaliação do ambiente habitacional, ressalta-se a necessidade do estudo e do projeto de HIS dar mais atenção à opinião dos usuários. | pt_BR |