dc.description | Nos últimos anos, a ascensão do tema “Habitação de Interesse Social” no contexto brasileiro destacou-se devido à intensificação das ações governamentais voltadas à política nesse campo, em especial o Programa Minha Casa Minha Vida. Ao contrário das políticas anteriores, verificou-se a tendência das ações relativas ao novo programa saírem da única e exclusiva responsabilidade dos agentes públicos, e incentivarem agentes não públicos a participarem do processo, ao que corresponde um panorama de produção mais complexo e com maior conflito de interesses [1]. Ainda assim, continuam a ser repetidas as tipologias desenvolvidas em meados do século XX e, paralelamente, observa-se o aumento das críticas e queixas relacionadas à qualidade dos projetos desenvolvidos, principalmente para as menores faixas de renda, denunciando a responsabilidade do arquiteto em entender as necessidades do usuário final e as questões de inserção urbana e habitabilidade. Para entender como o arquiteto e urbanista projetista concilia todos os fatores dessa dinâmica complexa (usuário, meio urbano, entorno, normas, contexto cultural, estética, etc.), este artigo analisa dois projetos de conjuntos habitacionais premiados no concurso de projetos “Habitação para todos”, promovido em 2010 pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo e organizado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil de São Paulo (IAB/SP). A escolha dos projetos estudados levou em conta a tipologia (habitação coletiva e de escala), a diferença de partidos entre as soluções apresentadas e a disponibilidade de material descritivo da proposta (plantas, imagens e memorial descritivo). Os projetos foram analisados à luz dos conceitos de processo de projeto propostos por Brian Lawson [2] e Edson Mahfuz [3], os quais tentaram mapear o processo utilizado pelos arquitetos na concepção do projeto arquitetônico. Como resultado verificou-se que, embora os dois projetos tenham partido das mesmas restrições iniciais (edital do concurso e a legislação especificada no edital – que representariam as restrições do cliente e da legistação, indicadas por Lawson), as soluções apresentadas são bastante distintas. Contata-se que a resposta única encontrada pelos diferentes profissionais ou grupo de profissionais, está relacionada às restrições subjetivas impostas por ele(s) próprio(s), aos seus princípios condutores, aos geradores primários adotados, bem como ao seu repertório, referências e histórico profissional. Além das restrições impostas pelo edital, os dois trabalhos adotaram um princípio que os une: a flexibilidade como um dos geradores primários. Mesmo assim, cada projeto apresenta estratégias distintas de flexibilidade, de acordo com o problema a ser solucionado. Percebeu-se, portanto, que, partindo-se de um problema bem estruturado (neste caso, os requisitos do edital do concurso), é possível adotar diferentes estratégias de concepção e priorizar restrições, o que resulta em soluções criativas e ainda compatíveis com as necessidades econômicas inerentes a um projeto de Habitação de Interesse Social (HIS). As soluções apresentadas nos dois projetos ilustram uma possibilidade real de redução da impessoalidade dos projetos de HIS. | pt_BR |